Entrevista com o trotskista grego sobre a situação na Grécia
La Verdad Obrera entrevistou Stavros, militante da organização trotskista grega OKDE (Organização de Comunistas Internacionalistas da Grécia), que está participando no processo de mobilizações contra o plano de ajuste. Edita o jornal mensal “Luta Operária” e sua página na internet é www.okde.gr.
Qual foi a reação frente às últimas medidas anunciadas pelo governo?
Houve varias greve e inclusive chamados dos sindicatos a uma greve geral, centralmente no setor público, que é o setor mais fortemente atacado. A política das direções sindicais foi de dividir as lutas e mobilizações entre o setor público e privado. Mas agora as medidas se dirigem contra todos os trabalhadores, contra o conjunto da classe operária e é o que criou o clima para a greve geral que estamos vivendo hoje. Alguns meios estimam que hoje se manifestaram entre 300.000 e 500.000 pessoas. Creio que a mobilização mais importante vimos neste país em 35 anos. Minha impressão é que o clima social que vivemos ainda anuncia muito mais adiante, e cada vez mais gente está se perguntando como fazer para continuar a luta nos locais de trabalho.
Qual é a situação entre a juventude?
Creio que a situação da juventude pode tornar-se muito explosiva, similar à que ocorreu em dezembro de 2008 (quando a polícia assassinou um jovem de 15 anos, Alexis Grigoropoulos) ou inclusive mais aguda. Ainda que na universidade esteja em período de provas, é difícil prever como a juventude reagirá, mas creio que a situação geral pode ser muito explosiva. Há também muitos jovens, que não se beneficiam do “Estado de Bem-Estar” e estão muito mais dispostos a confrontar os ataques da patronal e o aparato policial.
Como foi a greve geral de 5/5?
Os ministérios e as oficinas centrais estão totalmente paralisados. O mesmo acontece em algumas das indústrias maiores. Em setores onde a classe operária está menos organizada, o nível de mobilização é um pouco menor, mas de qualquer maneira há um estado de ânimo melhor. As mobilizações são massivas, e não estão sendo organizadas pelos sindicatos. Comparada com as greves anteriores, as de 24/2 e 11/3 esta é muito maior, muito superior. Em alguns bairros as pessoas se organizam para ir à marcha e enfrentar os duros ataques da patronal.
Qual é o papel e a política dos sindicatos?
Antes de responder a esta pergunta, temos que fazer um esclarecimento. Os sindicatos na Grécia não são muito importantes, não tem um papel central na forma como a luta de classes se expressa neste país. Há uma tradição muito mais politizada, isso é algo importante. O segundo ponto é que a burocracia sindical não está muito arraigada, não há uma tradição de sindicatos fortes e poderosos como, por exemplo, é a Confederação do Trabalho alemã, ou dos sindicatos na França. Na Grécia os sindicatos são muito mais débeis, e há mais oposição sindical das forças da esquerda dentro dos sindicatos. Esta é a razão que também explica por que se preservou um certo nível de democracia dentro dos sindicatos gregos. As direções sindicais, centralmente nos grandes sindicatos de transporte e telecomunicação, além do setor público, são controlados (pela fração sindical do) PASOK. No começo da crise, o presidente da Confederação Nacional dos Sindicatos da Grécia, GSEE, que agrupa o setor privado, atuava mais como um representante do governo que como um sindicalista. Por exemplo, quando foram anunciados os primeiros cortes contra o setor público, a GSEE, não chamou a uma greve geral comum. Dizia que era um ataque ao setor público e que o setor privado não se veria muito afetado pelo ajuste. Mas a direção da Confederação de Sindicatos do Setor Público, ADEDY, tampouco tinha um plano sério para confrontar estas medidas. Há alguma influência das correntes de esquerda nos sindicatos, como é o caso do Sinapismos (nome do partido, principalmente composto por ex euro comunistas, que junto com outras organizações de esquerda formam a coalizão SYRIZA), ainda que nós cremos que impulsiones uma política reformista.
Poderia nos contar como é a composição da esquerda na Grécia?
No que poderíamos chamar esquerda reformista grega há duas organizações principais, o KKE (Partido Comunista Grego), que diz ter políticas para a classe trabalhadora, mas é reformista e trata de separar suas mobilizações, marchas e ações das do resto e quer transformar sua mobilização em votos, com uma política eleitoralista. A outra organização importante é o Synapsimos, ao redor da qual há uma formação mais ampla chamada SYRIZA, na qual participam alguns partidos de esquerda. Eles também fazem chamados à luta, mas em realidade sua política é muito próxima aos sindicalistas do PASOK. Em muitos sindicatos,co- dirigem com o PASOK. Não chamam a uma generalização da luta. Tampouco querem levantar consignas contra a União Européia por que estão a favor da mesma e tem uma orientação eleitoralista.
Que programa a OKDE levanta nesta situação?
Nosso programa começa com uma lista de demandas de emergência, o que chamaríamos um “Programa de Emergência”, que coloca a abolição das medidas do pacote de ajuste e a extensão da luta até derrotar o FMI e a UE, que atuam como ditadores do povo grego. Estamos tratando de impulsionar a idéia da luta generalizada para derrubar o governo, e também lutamos nos locais de trabalho onde estamos para fortalecer a luta e enfrentar os patrões. Propomos a nacionalização dos bancos sem indenização. Nossa consigna central é abolição da dívida. Também levantamos a proibição das demissões. Tratamos de levantar consignas em todos os locais de trabalho e sindicatos em que estamos.
Tratamos também de explicar que não pode haver outra saída para esta crise por fora de uma saída socialista. Isso requer a acumulação e organização de uma força política, e organização marxista revolucionária. E tratamos de combinar todos estes aspectos.
Qual seria a sua mensagem para os trabalhadores em outras partes do mundo?
Todo trabalhador e todo joven debe entender que estamos enfrentando a bancarrota de um sistema que causou muitos desastres.Temos que lutar por um programa de emergência frente à crise, mas também temos que abrir a discussão no movimento operário por que o capitalismo está em crise na Europa. Não pode haver outra solução que não seja socialista, e evidentemente, este socialismo não tem nada a ver com a experiência vivida nos países e regimes ex-stalinistas.
Fonte: FT-CI